terça-feira, 24 de abril de 2012

Filmes que deveriam ser mostrados nas escolas

Aniki Bobó, de Manoel de Oliveira (DR)
Portugal vai ter um Plano Nacional do Cinema.
Que filmes deverão fazer parte?
Dez personalidades aceitaram sugerir ao PÚBLICO um top ten de filmes e realizadores do cinema nacional e mundial.







"Os Verdes Anos", um filme de 1963 realizado por Paulo Rocha, o documentário Belarmino, que Fernando Lopes fez no ano seguinte, tendo-se tornado ambos bandeiras do Cinema Novo, e também "Recordações da Casa Amarela" (1989), de João César Monteiro, estão no topo da lista do cinema português que deve ser mostrado nas escolas, segundo a opinião de dez personalidades da cultura convidadas pelo PÚBLICO a escolher os dez filmes nacionais, e outros tantos do cinema mundial, que devem vir a integrar o Plano Nacional do Cinema (PNC).

No ranking do cinema estrangeiro, os dois filmes que colheram mais nomeações foram o clássico do neo-realismo italiano "Ladrões de Bicicletas" (1948), de Vittorio De Sica, e a comédia que o francês Jacques Tati realizou uma década depois, "O Meu Tio" (1958), na qual satiriza a vida moderna e urbana.

A criação de um PNC foi anunciada no início de Março pelo secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, apontando para a sua entrada em vigor no ano lectivo 2013/14. O objectivo de fazer entrar a arte e a história do cinema nos currículos escolares é também referido, de passagem, no projecto da nova Lei do Cinema, que a SEC tem actualmente em consulta pública.

Quando Viegas prometeu o novo PNC, numa visita a uma escola de Trás-os-Montes, associou-o ao modelo do já existente Plano Nacional de Leitura. E acrescentou que ele terá por base um catálogo de cem filmes, que, além da componente educativa - "os estudantes devem perceber que o cinema não começou há cinco anos, começou há cem", disse Viegas, segundo o relato da Lusa -, servirá igualmente para formar novos espectadores.

O gabinete de comunicação da SEC explicitou depois ao PÚBLICO que o PNC irá resultar de um trabalho conjunto dos responsáveis da Cultura com o Ministério de Educação, a que se associará a Cinemateca Portuguesa, pois será do seu arquivo que sairão os filmes a disponibilizar às escolas. "O objectivo é criar uma filmoteca digital, com uma maioria de filmes portugueses, que seja acessível às escolas", disse João Villalobos, assessor de Viegas, explicando que os filmes a seleccionar deverão ter conteúdos que "correspondam aos programas lectivos e pedagógicos do ensino básico e secundário, entre o 7.º e o 12.º ano".

Foi com base nesta carta de intenções que o PÚBLICO desafiou uma dezena de figuras a propor o catálogo de filmes que consideram dever entrar nas salas de aula - algo que os professores já fazem hoje em dia, mas por iniciativa individual e de forma mais ou menos casuística. Das personalidades contactadas, aceitaram responder o ensaísta Eduardo Lourenço, o poeta e comissário do Plano Nacional de Leitura Fernando Pinto do Amaral, a actriz, realizadora e deputada independente pelo PS Inês de Medeiros, o director do Museu de Serralves, João Fernandes, os realizadores João Salaviza e Jorge Silva Melo, o escritor Manuel António Pina, o arquitecto Nuno Portas, o crítico e ex-director da Cinemateca Pedro Mexia e a professora de Literatura Rosa Maria Martelo.

Houve várias pessoas que não quiseram responder, por razões diversas. Entre elas, a escritora e ex-ministra da Educação Isabel Alçada, que, contudo, deixou alguns alertas relativamente ao projecto. "Um plano não pode ser só uma lista, para além de que esta é sempre reducionista", disse a ex-governante da equipa de José Sócrates. E reclamou "condições para que os professores possam escolher" os filmes a mostrar, além de referir que o catálogo deve ser organizado por "especialistas que conheçam os programas pedagógicos e educativos". ...


Fonte: Público