sexta-feira, 13 de março de 2015

Noites em Claro


Passas em claro as noites a chorar; 
Dia a dia, teu rosto empalidece... 
Faze tu, pobre Mãe, por serenar, 
Santa Resignação sobre ela desce! 

Rochedo que a penumbra desvanece, 
Tu, por acaso, não lhe podes dar 
Um pouco d'esse frio que entorpece 
O coração e o deixa descançar?... 

Jamais! Não ha remedio! Nem as horas 
Que passam! Toda a fria noite choras; 
Tua sombra, no chão, é mais escura. 

Soffres! E sinto bem que a tua dôr, 
Como se fôra um beijo, acêso amôr, 
Vae-lhe aquecer, ao longe, a sepultura. 

Teixeira de Pascoaes, in 'Elegias'